“Renascer... eis a vida, o progresso incessante, o eterno evoluir, eis a lei do Criador! Eis do Mestre Jesus, como luz rutilante o ensino imortal no evangelho do amor. Renascer... eis lei imutável, constante, pela qual nosso “eu” no cadinho da dor, em sublime ascensão pela luz deslumbrante, subirá para Deus, nosso Pai e Senhor...”
Escrito em 1929 por Chico Xavier.
Francisco Cândido Xavier, nasceu a 2 de abril de 1911, no município mineiro de Pedro Leopoldo, uma cidade pequena, tranqüila, de tradição bandeirante, sem atrações, vida pacata e comércio rudimentar, tendo apenas a agricultura como a base mais importante de subsistência.
Em 1915, Dona Maria João de Deus, percebendo a gravidade de sua enfermidade e pressentindo o desencarne próximo, entregou seus filhos a pessoas amigas, para cuidarem de sua educação. Diante de tais circunstâncias, Chico foi entregue a sua madrinha, Dona Rita de Cássia, mais conhecida como Ritinha.
Percebendo a separação de sua família, o menino Chico, perguntou a sua mãe o porquê daquilo estar acontecendo, sem compreender a gravidade da situação e, muito inocentemente, chegou a pensar que a mãe não os amava mais.
A VIDA COM DONA RITINHA
Durante suas constantes crises nervosas, Dona Ritinha premiava Chico com surras que chegaram a acontecer até três vezes ao dia. Sua vida tão cheia de provações, certamente poderia torná-lo um ser revoltado e marginal. Tal fato ocorreria realmente se sua riqueza espiritual de médium não se manifestasse.
Certa vez, Chico dirigiu-se à madrinha muito feliz, dizendo que havia conversado com a mãe desencarnada. Foi o suficiente para receber uma surra extra. Essa conversa com sua mãe foi a primeira experiência de Chico no campo da mediunidade. No entanto, ele continuava a ter visões e conversas com sua mãe, o que sempre narrava à madrinha. Dona Ritinha decidiu então conversar a respeito com o pároco do local, o qual recomendou ao Chico que rezasse mil Ave-Marias com uma pedra de 15 kg em cima da cabeça durante a procissão.
Em suas visões, a mãe o aconselhava a ter paciência. Explicava-lhe que não podia levá-lo para junto de si e procurava ajudá-lo a superar os maus tratos da madrinha. Outro fato lamentável ocorreu quando Dona Ritinha soube que a única maneira de curar a ferida infeccionada de seu outro filho adotivo, o sobrinho Moacir, era lamber-lhe a ferida durante três semanas seguidas, em completo jejum. Incumbido desta tarefa, Chico foi desesperado até o quintal, onde evocou o socorro de sua mãe. Recebeu dela palavras que naquele momento lhe confortaram. E quando iniciou a penitência, percebeu com surpresa que sua mãe colocava um pozinho sobre a ferida. E assim, pouco depois a perna de Moacir estava curada.
Apesar de tantos maus tratos, até hoje nunca se ouviu uma só palavra de Chico Xavier queixando-se de sua madrinha.
A PRIMEIRA MENÇÃO HONROSA
Os espíritos continuavam a enviar mensagens a Chico, mas ele receava ser rotulado de louco se comentasse com alguém as conversas que mantinha com "almas do outro mundo”.
Ele percebia os fenómenos mas ainda não sabia explicá-los. Chegavam a manifestar-se até na sala de aula, durante os quatro únicos anos de instrução primária que recebeu.
O próprio médium conta que, em 1922, no primeiro centenário da independência do Brasil, todos os alunos tiveram que apresentar uma dissertação sobre a data. Antes de começar a dissertação Chico viu um homem ao seu lado ditando o que deveria escrever. Assustado foi falar com a professora que o aconselhou a escrever o que ouvira, tranqüilizando-o: "Ninguém lhe disse nada. O que você ouviu veio de sua própria cabeça". Com esse trabalho o garoto Chico recebeu a sua primeira Menção Honrosa.
APROFUNDAMENTO NOS ESTUDOS DA DOUTRINA
Naquela época a maior dificuldade de Chico era conciliar a Doutrina Católica, que lhe era imposta, com as primeiras manifestações e conhecimento que obtinha do espiritismo.
Começou a ler sobre a doutrina espírita aos dezessete anos.
FATO DECISIVO
O fato que levou decisivamente Chico Xavier a se dedicar à tarefa mediúnica ocorreu no mesmo ano de 1927. Uma de suas irmãs ficou em estado de profunda obsessão, atormentada durante dias por maus espíritos. Chico procurou o amigo José Hermínio Perácio, espírita convicto, que lhe ofereceu sua casa para um tratamento adequado. José e sua esposa Carmem, uma médium experiente, conseguiram curar a irmã de Chico através dos ensinamentos da doutrina espírita e do desenvolvimento de suas faculdades mediúnicas. Ainda na residência do casal espírita,, Chico e sua irmã receberam mensagens tranqüilizadoras da mãe. Assim, a irmã voltou para a sua casa completamente curada e Chico sem qualquer dúvida a respeito da verdadeira face do espiritismo. Desde então ele organizou e passou a reunir um grupo de crentes para estudar e desenvolver a doutrina. Tal passagem é narrada no prefácio de Parnazo de Além Túmulo, onde confessa: "...foi nessas reuniões que me desenvolvi como médium escrevente, semimecânico, sentindo-me muito feliz, datando daí o ingresso do meu nome nos jornais espíritas onde comecei a escrever sob a inspiração dos bondosos mentores que nos assistiam".
EMMANUEL
Emmanuel, o principal guia espiritual de Chico Xavier, acompanha o médium desde que as primeiras manifestações espirituais se fizeram perceber pelos amigos, parentes e pelo próprio Chico.
ANDRÉ LUIZ
Emmanuel é o principal mentor de Chico Xavier mas não o único a lhe ditar mensagens profundas e cheias de ensinamentos. Outro espírito de luz a comunicar-se através da psicografia de Chico Xavier é um cientista brasileiro que até hoje mantém sua verdadeira identidade incógnita. Comunicou-se com ele pela primeira vez em 1943
AS PROVAÇÕES DOS ESPÍRITOS
Em 1931, começaram os primeiros contatos entre Emmanuel e Chico. Nessa época Chico já sofria de uma doença complexa nas vistas: o deslocamento do cristalino, que, somado ao estrabismo da vista direita, incomodava-o dia e noite. Ele pediu ao mentor uma orientação sobre o tratamento que deveria seguir para amenizar o seu sofrimento. Talvez pensasse em obter uma cura imediata através dos poderes espirituais de Emmanuel, mas este lhe ensinou uma lição: não deveria esperar privilégios do mundo espiritual só porque havia sido escolhido para transmitir ensinamentos sublimes. Deveria tratar-se sim, recorrendo à medicina humana, que segundo Emmanuel, "está no mundo em nome da Divina Providência".
O desprezo de Chico pelos bens materiais e pelos cuidados com o corpo também não merece a aprovação de Emmanuel, para quem "o corpo é comparável a uma enxada e o homem lembra o lavrador. Todo cuidado do lavrador é necessário para conservar a enxada em condições de trabalhar com acerto e segurança". As lições foram assimiladas em parte. Chico começou a se cuidar, entretanto o seu intenso ritmo de vida não lhe permitia ter uma boa saúde, pois trabalhava praticamente o dia todo e dormia apenas três horas durante a noite.
Em sua juventude seu corpo ainda resistia. Porém, com o passar dos anos, as defesas do organismo foram se esgotando e nem com a ajuda da medicina terrena Chico escapou da debilidade progressiva. Desde 1976 sofreu crises de angina e dois enfartes. Após a ultima crise de angina, em março de l982, precisou ser assistido permanentemente por um médico, o clínico geral Eurípedes Vieira, e tomar medicamentos diariamente.
O que a medicina dos homens não conseguiu curar foi o problema da visão. Mas uma vez Chico deu prova de que não se desviaria dos ensinamentos de Emmanuel ao recusar em 1969 uma oferta do médium Zé Arigó que desejava operar espiritualmente os seus olhos. "A doença é uma provação do espírito que devo suportar", respondeu Chico.
OS FENÔMENOS DE EFEITOS FÍSICOS
Chico Xavier não apenas psicografava como também realizava fenômenos de efeitos físicos. Certa vez perfumou a água que os assistentes traziam. De outra vez, o ar. Contam algumas testemunhas que Chico, certa ocasião foi rezar ao lado da cama de uma mulher muito doente e sem esperanças de vida. Enquanto o médium rezava, pétalas de rosas começaram a cair do teto sobre a doente. A mulher veio a desencarnar sem sofrimento, durante aquela madrugada. Após algum tempo desse acontecimento, Emmanuel intercedeu junto a Chico Xavier recomendando a suspensão dos trabalhos de efeitos físicos.
À medida que sua fama se propagava, cresciam também estórias dos poderes do médium, levando-o por diversas vezes a ter que esclarecer o público sobre a inveracidade de ser capaz de fazer um cego enxergar ou um paralítico andar.
A partir da década de 60 a fama de Chico Xavier ultrapassa as fronteiras do país, transformando-o no mais famoso médium vivo no Brasil.
PRÊMIO NOBEL
Seu valor não ficou provado apenas pelos mais de cem títulos de cidadania que recebeu no Brasil. A comissão que organizou sua candidatura ao Nobel referiu-se ao trabalho do médium em prol da assistência social.
A indiferença de certas pessoas não interferio no prestígio que Chico acumulou em mais de 60 anos de trabalho honesto e humilde. Prova disso foi a grande campanha realizada para que recebesse o prêmio Nobel da Paz em 1981, onde cerca de dez milhões de brasileiros endossaram a campanha, assinando manifestos e cartas.
Sua fama e também sua debilidade física, obrigaram-no ao isolamento forçado, mas nunca se negou a receber alguém ou conversar sobre qualquer assunto.
Apesar de tantos livros editados e vendidos (mais de 406 títulos), ele recebe por mês apenas uma aposentadoria como ex-funcionário do Ministério da Agricultura. O dinheiro oriundo das vendas dos livros é doado às obras de caridade.
Apesar de sua idade e de todos os fatos que lhe ocorreram, Chico Xavier prosseguia fiel em sua missão de revelar à humanidade a doutrina e os ensinamentos do Espiritismo. Jamais acusou alguém de ser mais ou menos bom para consigo, aceitando o ser humano como é, em nada o reprovando.
O médium Chico Xavier morreu numa noite de domingo, 30 de junho de 2002, aos 92 anos em Uberaba, Minas Gerais.
Namasté...
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